Os dons de poder são classificados dentro dessa categoria porque
estão relacionados à manifestação de curas e milagres, através de uma fé
sobrenatural. Como é peculiar dos milagres, dizem respeito à realização
de maravilhas, cuja causa é Deus, que tem todo poder sobre a natureza,
sendo Ele mesmo Seu Criador. Na aula de hoje aprenderemos sobre os
seguintes dons de poder com base em I Co. 12.4,9,11: dom de fé, dons de
curar e dom de operação de maravilhas.
1. O DOM DE FÉ
A fé, de acordo com o autor da Epístola aos hebreus, “é a certeza de
coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hb.
11.1), e vai mais além, afirma que “sem fé é impossível agradar a Deus”
(v. 6). Mas essa fé (gr. pistis) não é a fé enquanto dom, trata-se da fé
enquanto aspecto do fruto do Espírito. Em Gl. 5.22, essa fé é traduzida
em algumas versões como fidelidade. É uma segurança plena em Deus,
mesmo diante das situações mais adversas. De modo que Moisés abandonou o
Egito e não ficou amedrontado com a cólera do rei; antes permaneceu
firme como quem vê Aquele que é invisível (Hb. 11.27). Essa fé também
deve ser diferenciada daquela para a salvação, tendo em vista que a fé
vem pelo ouvir, pela Palavra de Deus (Rm. 10.17; Ef. 2.8). A fé
denominada salvífica opera para a salvação, que resulta em uma confiança
na suficiência do sacrifício de Cristo (Jo. 3.16). Ainda existe a fé
como conjunto de crenças, a doutrina defendida pela igreja, a ortodoxia
que se diferencia da heterodoxia (I Tm. 1.19; II Tm. 2.18). A fé como
dom é uma operação sobrenatural, geralmente instantânea, com vistas à
operação de alguma cura ou milagre. Quando o crente recebe essa fé, tudo
se torna possível, grandes coisas podem acontecer (Mc. 9.23). Essa fé
independe da atuação humana, pois é totalmente dependente de Deus. Em
alguma circunstância, quando Deus quer operar, Ele libera uma porção de
fé sobre o cristão. Quando isso acontece, os cristãos são
instrumentalizados com poder, para alterar o curso natural da realidade
(Mt. 14.30; Lc. 17.3-6). Foi com essa fé que Jesus ressuscitou Lázaro
(Jo. 11) e libertou a filha de uma mulher Cananéia (Mt. 15.22-28).
Existe uma relação muito próxima entre a fé dom e a cura (Mt. 9.22).
Jesus ressaltou, em várias ocasiões, que a fé de uma determinada pessoa
resultou em cura (Mt. 8.13; 9.26-29; Mc. 5.34). Paulo também observou
essa fé miraculosa, através da qual Deus fez que um paralítico andasse
(At. 14.8-10). É esse tipo de fé pela qual devemos orar, pedindo a
Deus, a fim de que possamos fazer proezas para Deus (Lc. 17.3-5).
2. DONS DE CURAR
Os dons de curar (gr. charismata iamaton) são apresentados no plural
no Novo Testamento grego, ressaltando, assim, que se trata de uma
diversidade, mesmo entre as possiblidades de curas. Não podemos esquecer
que o Espírito distribui os dons como lhe apraz. Por conseguinte, nem
todos recebem os dons, e mesmo entre os que recebem os dons de cura,
esse não sana todas as enfermidades. Por isso não é apropriado o crente
afirmar que possui o dom de curar, pois, na verdade, o que acontece é o
uso de Deus, para a cura de determinadas enfermidades. Jesus curou
muitas pessoas pelo dom do Espírito Santo, mas não curou a todos e nem
todas as enfermidades (Mt. 20.30-34), um exemplo disso é a cura do
paralítico próximo ao tanque de Betesda (Jo. 5.1-9). A cura do corpo
precisa ser percebida dentro de uma perspectiva teológica mais ampla,
que envolve a glorificação do corpo, que se dará no futuro, na dimensão
escatológica (I Co. 15.51-54). Ela aponta também para o passado, quando
Cristo, na cruz, carregou nossas transgressões (Is. 53.4,5). Mateus, em
seu relato evangélico, reafirma essa doutrina, reconhecendo que Jesus
tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças (Mt.
8.16,17). Para evitar equívocos e extremos em relação às doenças e
enfermidades, e não as associarmos com os pecados das pessoas, tal como
fizeram alguns discípulos de Jesus (Jo. 9.1,2), precisamos saber que
estamos em mundo caído (Rm. 5.12). Por essa razão estamos sujeitos às
enfermidades, como qualquer pessoa que habita essa terra. Existem casos
de doenças decorrentes do pecado (Tg. 5.14-16), mas não podemos fazer
generalizações, tal como os amigos de Jó, afirmando que ele adoeceu por
causa do pecado, tal pensamento foi repreendido por Deus (Jó. 42.7). Há
também enfermidades causadas por operações malignas, mas isso também não
é regra geral (Lc. 13.16; At. 10.38). Em termos práticos, o dom de cura
pode ser manifesto por meio da oração da pessoa enferma, dos membros da
igreja (Tg. 5.16), e pela imposição de mãos (Mc. 16.18). Reafirmamos,
como temos feito ao longo destes estudos, que os dons de curar nada têm a
ver com técnicas medicinais. Por outro lado não devemos nos apor à
intervenção médica, o próprio Jesus ressaltou a importância dos médicos
para os doentes (Mc. 2.17). Ninguém deve ser estimulado a abandonar um
tratamento médico sem que a cura seja clinicamente atestada. Esse
cuidado evita frustrações posteriores, principalmente escândalos dentro e
fora da igreja. Ao mesmo tempo, enquanto oramos pelos enfermos,
entregando-os nas mãos de Deus, para serem curados, assumimos, com fé,
que Jesus é o mesmo ontem, hoje e para sempre (Hb. 13.8).
3. DOM DE OPERAÇÃO DE MARAVILHAS
O dom de operação de maravilhas (gr. energemata dynameon) está
relacionado à operação de milagres. Este, por sua vez, é um evento ou
efeito no mundo físico, que não se coaduna às leis da natureza ou que
sobrepuja o conhecimento de tais leis. Os milagres de Jesus chamavam a
atenção daqueles que os testemunhavam (Mt. 9.33; Mc. 4.41). O Senhor
enviou Pedro ao mar, para fisgar um peixe, e ao abri-lo, em conformidade
com a palavra, retirou uma moeda da boca do peixe (Mt. 17.27). Paulo
também foi usado por Deus para realizar maravilhas, as enfermidades
fugiam das suas vítimas e os espíritos malignos se retiravam das pessoas
oprimidas (At. 19.11,12). Os milagres são sinais, eles apontam para o
caráter messiânico de Cristo, para demonstrar que Ele é o Senhor,
principalmente o Salvador da humanidade. Os milagres não são
espetáculos, não devem ser usados para ganhar dinheiro, muito menos para
fazer publicidade. O objetivo central dos milagres é a glorificação de
Deus, no Seu filho Jesus Cristo (Jo. 14.12,13). ). Lucas testemunha que o
ministério de Cristo foi aprovado por Deus com milagres, prodígios e
sinais (At. 2.22). Quando os milagres apontam para Cristo, as pessoas
glorificam a Ele, se voltam para adorá-LO, reconhecendo-O como Senhor e
Salvador (Lc. 19.37). Os missionários experimentam com poder a operação
de maravilhas, os sinais tendem a acompanhar aqueles que se dedicam à
evangelização (Mc. 16.15,16). Por isso Deus, pelas mãos de Paulo, fazia
milagres extraordinários (At. 19.11). Os milagres, durante a vida
ministerial, comprovam que o Pai está em Cristo, e que Cristo está
conosco (Jo. 10.38). O espanto decorrente dos milagres pode servir para
que as pessoas se voltem para Deus (Mc. 7.37), assim ocorreu quando
Jesus ressuscitou o filho da viúva de Naim (Lc. 7.11-16). Muitos creram
no Senhor por meio dos milagres realizados pelos apóstolos (At.
9.32-32). A pregação do reino de Deus deve anteceder a ministração da
cura, nunca o contrário como fazem alguns pregadores televisivos (Mt.
10.7,8).
CONCLUSÃO
A igreja evangélica precisa despertar para o valor desses dons de
poder: fé para realizar milagres, dons de curar para libertar os
enfermos e operações de maravilhas. Todos esses dons têm como objetivo
precípuo a adoração a Deus, glorificar o Filho, Jesus Cristo, por meio
de quem realizamos proezas para Deus, também nos dias atuais (Jo.
14.12). Para tanto, devemos pedir ao Senhor uma fé sobrenatural, a fim
de que possamos realizar grandes coisas para Deus.
BIBLIOGRAFIA
PRINCE, D. The gifts of the Holy Spirit: . New Kensigton: Whitaker House, 2007.
STORMS, S. Dons espirituais: uma introdução bíblica, teológica e pastoral. Rio de Janeiro: AnnoDomini, 2014.
terça-feira, 22 de abril de 2014
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