INTRODUÇÃO
Após o estudo dos dons espirituais, nos voltaremos ao longo das
próximas aulas para os dons ministeriais, isto é, para a obra do
ministério (gr. eis ergon diakonia). Inicialmente destacaremos os
propósitos desses dons, comparando-os com os dons espirituais. Em
seguida apresentaremos as especificidades do ministério apostólico no
Novo Testamento. E ao final, faremos uma apreciação a respeito do
ministério do apostolado nos dias atuais.
1. OS PROPÓSITOS DOS DONS MINISTERIAIS
Os ministérios de Deus sempre têm propósitos, conforme estudamos
anteriormente em relação aos dons espirituais (I Co. 12.7). Os dons
ministeriais são provenientes de Cristo, e destinados à igreja, para o
aperfeiçoamento dos santos. Isso quer dizer que esses dons devem
edificar os outros, ou seja, para serem compartilhados, para contribuir
com a santificação dos irmãos e irmãs. Paulo acrescenta que eles são
para o trabalho do ministério (gr. diakonia). Portanto, uma das
especificidades desses dons, diferentemente dos espirituais, é que eles
são para o serviço, para os que lideram na igreja. Apóstolos, profetas,
evangelistas, pastores e mestres trabalham com vistas à edificação do
Corpo de Cristo. A atuação dos dons ministeriais acontecerá, no seio da
igreja, até que venhamos à unidade da fé em Cristo. É uma pena
testemunhar tantas divisões nas igrejas, algumas delas infundadas, por
motivos meramente egoístas. Isso acontece por causa dos interesses
individuais, geralmente pela busca de títulos. A igreja não pode
esquecer que foi chamada para a unidade (Jo. 17.21), não apenas nos
aspectos doutrinários, mas, sobretudo, para o amor (gr. agape), que é o
vínculo da perfeição que promove a paz (Ef. 4.3; Cl. 3.14). O objetivo
primordial do ministério deve ser o crescimento em amor da igreja, e o
conhecimento do Filho, Jesus Cristo. Para tanto, devemos ensinar, a
partir dos evangelhos, quem foi e é o Senhor. Como Paulo devemos ser
imitadores de Cristo, somente assim chegaremos à estatura de perfeição,
ou melhor, a completude em Cristo. A intenção de Deus é a maturidade da
Sua igreja, infelizmente alguns preferem continuar crianças na fé. Uma
das características da infância é a falta de critérios para avaliação.
As crianças tendem a ser levadas por todo e qualquer vento de doutrina. O
ministério tem uma função primordial nesse sentido, a de evitar que os
irmãos sejam enganados por falsas doutrinas de homens, e seguirem
segundo os rudimentos do mundo (Cl. 2.4-8).
2. OS APÓSTOLOS DO NOVO TESTAMENTO
O ministério de apóstolos (gr. apóstolos) geralmente está relacionado
aos doze, mas tem uma atuação bem mais ampla no Novo Testamento.
Existem pelo menos vinte e quatro apóstolos mencionados ao longo do Novo
Testamento. O termo grego diz respeito a alguém que foi delegado, ou
melhor, enviado com autoridade para agir em lugar de outro. O apóstolo,
de acordo com essa definição, é alguém que age não em benefício próprio,
mas pelo Espírito Santo, em benefício do Corpo de Cristo. Essa é uma
diferença fundamental de alguns apóstolos televisivos, que assim se
intitulam, para tirarem benefício do rebanho. Ninguém se faz apostolo,
esses são chamados por Deus, para serem enviados. Os apóstolos são
mensageiros, arautos do evangelho de Jesus Cristo, que cumprem uma
missão (II Co. 8.23; Fp. 2.25). Os apóstolos são listados primeiro,
entre os dons ministeriais, porque eles são os plantadores de igreja,
aqueles que chegam primeiro ao campo. Barnabé, em I Co. 9.5,6, é também
chamado de apóstolo, tendo em vista sua atuação missionária, juntamente
com Paulo (At. 14.14). Há outros apóstolos no Novo Testamento, dentre os
quais destacamos, Andrônico, Júnia (Rm. 16.7), Apolo (I Co. 4.6,9),
Tiago, irmão do Senhor (Gl. 1.19; Tg. 1.1), Silas e Timóteo (I Ts. 1.1;
2.6), Tito (II Co. 8.23) e Epafrodito (Fp. 2.25). A lista de apóstolos
no Novo Testamento é muito mais ampla, considerando os setenta, também
enviados por Cristo (Lc. 10.1-20). Uma das características marcantes
desse ministério é a disposição para desbravar territórios que ainda não
foram alcançados. Jesus é o maior exemplo de Apóstolo, pois Ele mesmo
foi enviado para a salvação do mundo (Jo. 3.16). Paulo também se
reconhece apóstolo, não da parte de homens, mas de Deus, que O chamou
para as nações (Gl. 1.1). O ministério apostólico, ou mais precisamente
missionário, pode ter direções específicas. Paulo foi chamado por Deus
para o apostolado entre os gentios, enquanto que Pedro para os judeus
(Gl. 2.8). Um missionário pode ter chamado divino para pregar entre as
etnias, outro na zona rural, e outro, por sua vez, na urbana. Esse
ministério apostólico tem alguma relação com os doze, tendo em vista que
aqueles também foram enviados por Jesus (Mt. 10.2-4). Esse colégio tem
destaque no Novo Testamento, já que acompanharam Jesus, e foram
testemunhas da Sua ressurreição. Quando Judas traiu Jesus e foi se
suicidar resultou em uma lacuna. Lucas, em At. 1.26, registra que a
substituição de Judas teria sido feita por Matias, ainda que haja
controvérsias em relação à aprovação divina dessa substituição. Há quem
defenda que o substituto de Judas na escolha de Deus teria sido Paulo,
já que Matias teria sido escolhido por sortes (At. 1.21-26). Essa
perspectiva teológica tem fundamento, considerando que Paulo viu Cristo
ressurreto (At. 9.5; I Co. 15.8,9), sendo este um critério para que
alguém fosse contado entre os doze.
3. O APOSTOLADO NOS DIAS ATUAIS
O ministério apostólico permanece nos dias atuais e é exercido por
aqueles que são ou foram pioneiros na obra de Deus, alguém que fora
enviado para iniciar um trabalho (I Co. 3.10; Ef. 2.20). Para tanto, há
um preço a ser pago, o qual nem todos estão dispostos. Há uma relação
direta entre o ministério apostólico e a obra missionária. Na verdade, o
apóstolo dos dias atuais é um missionário, alguém que sai da sua terra,
se distancia da sua cultura, para ganhar almas para o reino de Deus.
Como aconteceu com Paulo, os apóstolos enfrentam muitas dificuldades, e
às vezes, são perseguidos (I Co. 4.9; II Co. 5.14-17). Eles são os
plantadores das igrejas, não ficam muito tempo no mesmo lugar, pois
precisam levar a mensagem adiante, em alguns casos gemendo e chorando
(Sl. 126.6). Para consolidar o trabalho, deixam presbíteros (bispos) e
diáconos, a fim de firmarem os irmãos e irmãs na fé (At 14.21-23; Fp.
1.1). Aqueles que são deixados em determinado lugar receberam o dom de
governo, para organizar a igreja local (I Co. 12.28). Somente nesse
sentido podemos dizer que existem apóstolos nos dias atuais, pois doze
apóstolos do Cordeiro já estão estabelecidos (Ap. 21.14). É importante
ressaltar que esses apóstolos não pertencem a uma sucessão, a relação
com eles está fundamentada na Palavra, que é apostólica. É mais
apropriado afirmar que os apóstolos são os missionários, aqueles que são
enviados para ganhar almas, dentro e fora de determinado país. Esses
servos e servas de Deus receberam uma chamada específica, não têm a vida
por preciosa (At.20.24), antes se gastam para a glória de Deus, e por
amor às almas perdidas (II Co. 12.15). Como acontecia nos primórdios da
igreja, devemos continuar enviando missionários, seguindo a direção do
Espírito Santo (At. 13.1-5). Existem pessoas em várias etnias que
precisam de Cristo, mas como crerão se o evangelho não for pregado? A
responsabilidade da igreja é a de fazer missões, enviar obreiros e
obreiras com o coração direcionado às almas perdidas (Rm. 10.14,15).
CONCLUSÃO
O ministério apostólico continua nos dias atuais, mas não como
sucessão eclesiástica, como querem defender aqueles que querem status. O
apostolado não tem relação com títulos eclesiásticos, que em alguns
casos servem apenas para a promoção pessoal. Alguns acham pouco serem
“pastores” ou “bispos” por isso querem ser “apóstolos”, se pudessem
seriam “deuses”. Se por um lado precisamos ser cautelosos quanto a esses
falsos apóstolos, precisamos, por outro, legitimar o verdadeiro
ministério apostólico. A igreja deve reconhecer, enviar, orar e
contribuir com aqueles que são mensageiros de Deus em terra estranha,
que se sacrificam pelo Reino de Deus, que arrebatam as almas perdidas da
condenação eterna.
BIBLIOGRAFIA
GEE. D. Os dons do ministério de Cristo. Rio de Janeiro: Livros Evangélicos, 1961.
SUMRALL, L. The gifts and ministries of the Holy Spirit. New Kesington: Whiteker House, 1982.
terça-feira, 6 de maio de 2014
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